quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Especialista alerta para consumo excessivo e desregulado de melatonina no Brasil

A melatonina, substância conhecida por sua função de induzir o sono, não tem registro no Brasil como medicamento. No entanto, pode ser encontrada desde 2017 em farmácias de manipulação após uma decisão judicial contrariar resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e autorizar sua importação. Seu consumo tem sido considerado excessivo por especialistas, que apontam os riscos de efeitos colaterais.
"É muita gente tomando e muito médico prescrevendo", afirma José Cipolla Neto, professor de fisiologia no Instituto de Ciências Biomédicas da USP e pesquisador sobre os efeitos fisiológicos e mecanismos de ação da melatonina
Trata-se de um hormônio naturalmente produzido pela glândula pineal, uma pequena glândula endócrina localizada próxima da região central do cérebro. O papel mais comum da melatonina é sinalizar para os órgãos humanos que a noite chegou e preparar o organismo para adormecer. Por isso, é comumente usada por insones para melhorar a qualidade do sono.
Mas a substância também tem papel no controle da ingestão alimentar, na síntese e na ação da insulina nas células, entre outros. Por seu efeito variado, o hormônio caiu no gosto de pessoas em diversos países.
Na internet, é ofertado para auxiliar no emagrecimento, no combate ao diabetes, no controle de enxaqueca e até mesmo na proteção contra os danos do mal de Alzheimer - embora não haja consenso científico sobre esses supostos benefícios.
Apesar de necessária ao organismo, a substância tem contraindicações. De acordo com a Anvisa, "há riscos associados à utilização da melatonina que não podem ser ignorados": o consumo de medicamentos contendo a substância pode causar inchaço da pele, boca ou língua, perda de consciência, depressão, irritabilidade, nervosismo, ansiedade, aumento da pressão arterial e função anormal do fígado, entre outros problemas.

Abuso

Mas as possíveis efeitos negativos do consumo do hormônio não espantam interessados. Somente nos Estados Unidos, onde o produto é vendido como suplemento alimentar e pode ser encontrado em grandes supermercados, pelo menos 3 milhões de pessoas consomem a substância frequentemente.
De acordo com estimativas do Centro Nacional para Saúde Complementar e Integrada do governo americano, o uso de melatonina mais que dobrou entre 2007 e 2012, mesmo com a ausência de informações suficientes sobre seus efeitos no longo prazo nem consenso sobre sua eficácia como indutora do sono.
No Brasil, a Anvisa diz não ter dados de consumo ou de venda. A Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), que responde pelas farmácias de manipulação, disse que também não tem estimativas.
Para Cipolla Neto, o cenário é de uso em excesso e, em alguns casos, de abuso. "Nos EUA tem muita gente tomando indiscriminadamente, o que é uma tragédia, e nós estamos indo para esse mesmo cenário aqui", diz. Segundo ele, a liberação de um medicamento nacional ajudará a Anvisa a ter mais controle sobre o consumo.
"A questão é criar (a percepção de) que não é uma balinha e que precisa ser administrada de forma adequada. Do contrário, pode trazer consequências sérias", afirma.

Com receita

No Brasil, pacientes podem comprar formulações preparadas pelas farmácias de manipulação, desde que com receita médica. De acordo com a Anfarmag, os remédios manipulados podem ser preparados em cápsulas ou em formas farmacêuticas líquidas. Não há padrão para as doses, que são definidas pelos médicos caso a caso.
Desde 2017, esses estabelecimentos compram o insumo farmacêutico ativo da empresa Active Pharmaceutica Ltda. - ME, que vem importando a substância para o Brasil após vencer ação contra a Anvisa e conseguir a liberação de maneira judicial.
Em nota, a Anvisa disse que resolução do órgão proíbe "a importação e comercialização de insumos farmacêuticos destinados à fabricação de medicamentos que ainda não tiverem a sua eficácia terapêutica avaliada" pela agência e que "não é possível comercializar melatonina como insumo farmacêutico ativo no Brasil".
Questionado sobre a atividade da Active Pharmaceutica Ltda. - ME, o órgão não respondeu se recorreu ou se irá recorrer da decisão.
De acordo com a agência, medicamentos só recebem registro no país após ensaios clínicos comprovarem sua segurança e eficácia. No momento, pelo menos um laboratório brasileiro faz ensaios clínicos com a melatonina.
Em agosto de 2016, o Aché Laboratórios Farmacêuticos recebeu o aval da agência para fazer testes com o fármaco. Questionada sobre quando espera submeter resultados a Anvisa e se espera desenvolver um produto comercial a partir dos estudos, a empresa não respondeu.

Indicações e riscos

A melatonina começa a ser produzida pelo organismo por volta das 20h, e uma das primeiras sensações que provoca é a de sono. Seus efeitos, contudo, também são sentidos no metabolismo, que se modifica para entrar em jejum; no sistema cardiovascular, que irá reduzir a pressão arterial; e na temperatura corpórea, entre outros, para o corpo adentrar o sono.
Porém, se tomada em excesso e fora do horário de produção natural pelo organismo, pode desencadear doenças crônicas, como diabetes. "A quantidade que precisa ser administrada para o paciente no começo da noite não pode ser grande o suficiente para permanecer (no organismo) durante o dia. Do contrário, pode trazer resistência insulínica pela manhã para o indivíduo, o que significa iniciar o desenvolvimento de um quadro diabético", explica Cipolla Neto.
Uma das indicações comuns da melatonina é para idosos. O envelhecimento reduz naturalmente a produção da substância e, nesses casos, é recomendada a sua reposição. "Após certa idade, a glândula pineal reduz a produção de melatonina, às vezes até 20% do que quando jovem", afirma o médico.
No entanto, pessoas jovens vêm usando o medicamento cada vez mais cedo, em parte para combater a insônia crescente, exacerbada pela exposição prolongada a equipamentos eletrônicos. "A produção normal de melatonina só existe em condição de noite escura", explica.
Porém, a presença da luz azul em celulares e computadores sinaliza ao organismo que ainda é dia e, com isso, pode atrasar a produção do hormônio, gerando dificuldades para dormir. "A sociedade está ficando acostumada a isso, com pessoas reduzindo a produção de melatonina."

Pesquisa

Ao mesmo tempo, na USP de Ribeirão Preto, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas estuda outras aplicações para a melatonina. Uma das linhas de pesquisa é o uso do hormônio em doses terapêuticas para evitar lesões cardiovasculares em pacientes portadores da doença de chagas.
O mal é transmitido a partir do contato com as fezes dos insetos vetores, conhecidos como "barbeiro", e pode virar uma condição crônica. A consequência mais grave são lesões no coração, causadas pela resposta imunológica do organismo - as células de defesa agem de maneira intensa para exterminar o parasita causador da doença, mas também machucam o órgão.
"A melatonina age nas nossas células brancas e promove resposta inflamatória potente", explica José Clóvis do Prado Júnior, professor-associado do Departamento de Análises Clínicas Toxicológicas e Bromatológicas da faculdade.
A substância também induz uma resposta imunológica anti-inflamatória e ajuda a proteger o coração na fase crônica da doença de chagas, explica o pesquisador. "Fizemos controle de paciente chagásico com e sem melatonina. Naqueles que receberam a melatonina, os marcadores de lesão cardíaca mostravam lesões menores", diz.
O estudo foi feito com animais e testes clínicos com humanos devem ser feitos em breve. Prado Júnior espera que pesquisas como a sua, que comprovem os benefícios da melatonina, auxiliem na liberação da substância no país. "Se essas pesquisas mostrarem benefícios no paciente chagásico, acredito que a Anvisa irá liberar."
Para o pesquisador, ainda há muito a ser descoberto sobre o hormônio, alvo de ensaios entre médicos gregos ainda no século 1.
"A melatonina é quem regula tudo, a hora que cada hormônio deve entrar em ação. Filósofos antigos (Descartes) achavam que a glândula pineal era a sede da alma humana porque ela que conduzia os ritmos do organismo. E é ali que está a produção da melatonina."


Fonte e reportagem: http://www.bbc.com/portuguese/geral-42783300




terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Oito anos após lei, como Anvisa e farmacêuticas querem diminuir falsificações e roubos de remédios

Medicamentos falsificados, irregulares, oriundos de contrabando ou roubo poderão ser interceptados mais rapidamente a partir do próximo ano. No primeiro trimestre de 2018, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e um grupo de seis empresas farmacêuticas começam um projeto-piloto para rastrear remédios desde a produção à venda no Brasil.

A medida pode ajudar a diminuir a circulação de produtos falsificados ou de qualidade duvidosa, estimados em 10% do total de remédios vendido em países de baixa e média renda, como o Brasil, segundo relatório recente da OMS (Organização Mundial da Saúde). O total gasto com esses medicamentos pode chegar a US$ 30 bilhões globalmente, estima a organização.
O programa de rastreabilidade brasileiro, cujo nome oficial é Sistema Nacional de Controle de Medicamentos, vinha sendo gestado desde janeiro de 2009, quando a lei Lei 11.903 previa a criação de um sistema de rastreamento desde a fábrica até o paciente. Após intenso debate entre indústria e governo e uma nova lei em 2016, o programa foi regulamentado. Em 2018, começa a primeira fase.
O rastreio será possibilitado por um número individual, exclusivo de cada medicamento. Esse código, que funciona como um número de identidade único, estará na embalagem de cada produto e permitirá que governo e farmacêuticas rastreiem os remédios em toda a cadeia comercial.
O processo tem início com o fabricante ou importador do remédio, que informa à Anvisa quando o produto sai do laboratório e é enviado para uma revendedora. Por sua vez, quando as revendedoras recebem e quando revendem o medicamento, elas detalham à agência as informações sobre quais drogarias ou hospitais receberam o produto.
"Os códigos de cada caixinha vão nos ajudar a monitorar se o produto transita na cadeia conforme ele vai sendo informado [pelas empresas]. Com isso, evitamos o uso de produtos sem registros, roubados ou extraviados", explica Pedro Ivo Sebba Ramalho, diretor-adjunto da Anvisa.
A agência também espera que o sistema ajude as ações de recolhimento - quando um remédio apresenta problemas de qualidade e precisa ser retirado rapidamente de circulação. "Saberemos onde estarão todas as unidades de lote com problemas", afirma Ramalho.

Produtos de alto valor

Entre os produtos a serem monitorados na primeira fase do programa, estão remédios caros, geralmente visados por criminosos. "Se um falsificador de moeda estiver operando, ele não irá falsificar notas de 2 reais, mas irá querer falsificar notas altas, para compensar a fraude. Então um dos critérios são os produtos de maior valor agregado", diz Ramalho.
Outro critério são produtos usados com frequência e, portanto, de alto volume - outro campo de interesse dos falsificadores. Os medicamentos que começam a ser rastreados no ano que vem são Tandrilax (analgésico e relaxante muscular), Climene (para terapia de reposição hormonal feminina), Micardis (para hipertensão), Levaquin (antibiótico) e Faulblastina (utilizado no tratamento de vários tipos de câncer).

Os produtos são das farmacêuticas Aché, Bayer, Boehringer Ingelheim, Janssen-Cilag e Libbs, que participam da fase piloto da iniciativa. Futuramente, Eurofarma e Roche também devem ser inseridas, segundo o Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo).
"Quando estiver totalmente implementado, será possível monitorar o percurso dos produtos originais em todas as etapas do processo de produção, distribuição, venda aos consumidores e utilização em clínicas, hospitais e residências", diz Nelson Mussolini, presidente-executivo do Sindusfarma.

Antibióticos estão entre os mais falsificados

Algumas das classes de medicamentos a serem rastreadas pela Anvisa - antibióticos, analgésicos e remédios para câncer - estão entre as principais falsificadas globalmente, segundo a OMS. Antibióticos, por exemplo, representaram um quinto dos casos denunciados à organização entre 2013 e 2017, seguidos por anestésicos e analgésicos, com 8,5% dos casos.
De acordo com a OMS, citando dados da organização policial Interpol, organizações criminosas antes especializadas no mercado de drogas estão migrando para o segmento de remédios porque "os lucros são altos, os riscos de serem detectados e julgados são pequenos e as penalidades, se o processo é de fato bem sucedido, praticamente insignificantes quando comparado com aqueles aplicados no tráfico de drogas de larga escala".
De acordo com Joseane Ames, autora do estudo Falsificação de medicamentos no Brasil, que analisou dados da Polícia Federal sobre apreensões de medicamentos falsos no país entre 2007 e 2010, criminosos estão interessados em produtos ou que custem caro ou que sejam de difícil acesso à população.
"Mesmo em pequena quantidade, até medicamentos contra câncer foram encontrados entre as apreensões, tanto pelo valor de mercado quanto pela dificuldade algumas vezes de encontrar para a venda", diz a pesquisadora. "Infelizmente falsificações ainda são muito comuns em medicamentos de custo elevado ou proibidos pela Anvisa", afirma.
No período pesquisado por Ames, um total de 610 medicamentos, incluindo antidepressivos, esteróides anabolizantes, produtos para disfunção erétil masculina e produtos para emagrecer, foram declarados falsos após análises por peritos criminais. Questionada pela BBC Brasil sobre apreensões a partir de 2011, a Polícia Federal não respondeu.
Já a Anvisa disse não ter estimativas sobre o montante de remédios falsificados ou de qualidade ruim em circulação. Em 2016, a Anvisa afirma que seis lotes de medicamentos falsificados foram apreendidos. A entidade não precisou o volume de unidades envolvidas nos seis lotes interceptados.
Apesar da falta de estatísticas oficiais, o problema é considerado grave pela agência. Para o próximo ano, Anvisa trabalha em um plano nacional de combate a medicamentos falsificados, parte de uma estratégia internacional da OMS para levar diferentes países a desenvolver programas nacionais para tratar do problema.
O Brasil é um importante aliado nesse tema. O país foi o responsável por coordenar um guia, lançado pela OMS em outubro, para outras nações desenvolverem programas capazes de frear a produção e venda de medicamentos falsificados ou de qualidade ruim.

Controle difícil

Um dos principais desafios de reguladores é a internet, que abriu um vasto campo de atuação para criminosos que lucram com o comércio de medicamentos falsificados, sem registro ou de qualidade ruim. Reguladores nem sempre são capazes de frear a máquina propagandista utilizada por criminosos online e em redes sociais para promover e vender esses produtos.
Um caso recente envolve os produtos Control PRO- Premium e Natural-D - Tratamento Avançado, ambos divulgados em sites em português prometendo resultados milagrosos no controle do diabetes tipo 2. Em meados de dezembro de 2017, a Anvisa baniu os dois produtos, mas, duas semanas após o veto, os itens continuavam sendo amplamente ofertados, inclusive nos sites nomeadamente proibidos de divulgá-los.
Os riscos trazidos pelos produtos, de fabricante desconhecido, vão desde envenenamento pela presença de substâncias desconhecidas a falhas fatais no tratamento, uma vez que produtos irregulares podem não trazer as substâncias de fato terapêuticas e nas quantidades certas, necessárias para os pacientes que precisam fazer o controle da doença.
Ramalho, da Anvisa, reconhece a dificuldade de processar e prender criminosos que atuam na venda online de produtos irregulares. "A internet é um dos que apresentam grau de desafio maior, inclusive porque muitos dos sites que vendem os produtos são sediados fora do Brasil, o que impede o alcance da autoridade sanitária para penalizar esses provedores."
No caso do produto Control-Pro, o site onde o produto é vendido deturpou comunicados reais da Anvisa para divulgar os produtos. Os autores da notícia falsa mencionam a liberação, em julho de 2017, de um novo medicamento para o tratamento do diabetes tipo 2, mas afirmam que a agência aprovou as substâncias contidas no produto irregular - o que não é verdade.
Os autores trazem ainda depoimentos de supostos pacientes que dizem ter voltado a consumir alimentos que antes não podiam por causa da doença após usar o produto por 30 dias.
Para Mussolini, do Sindusfarma, o acompanhamento de anúncios de produtos farmacêuticos na internet ainda é falho. "A Anvisa terá de reforçar sua estrutura de monitoramento e controle para enfrentar esse novo desafio", diz.

Consciência sanitária

Além de auxiliar com denúncias à Anvisa, pacientes e consumidores podem auxiliar o órgão regulatório ao buscar apenas fornecedores autorizados e evitar a compra de medicamentos em feiras, camelôs e postos de beira de estrada, além de evitar o consumo de produtos duvidosos.
Atenção a mecanismos de segurança simples presentes nos remédios de fato autorizados no país podem ajudar nessa pesquisa. Medicamentos com registro sanitário, por exemplo, têm na embalagem uma tinta reativa que, ao ser raspada, traz a palavra "Qualidade", além da logomarca da empresa fabricante. Produtos aprovados também são lacrados ou trazem selo de segurança, os quais indicam a inviolabilidade do produto.
"É importante a questão da consciência sanitária das pessoas, além de buscar informação para ter acesso a produtos regularizados, para que o paciente possa ter um consumo seguro", aponta Ramalho.
Reportagem: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-42462080

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Feriados 2018

Confira a lista dos feriados nacionais de 2018: 

  • 1 de janeiro (segunda): Confraternização Universal
  • 30 de março (sexta): Paixão de Cristo
  • 21 de abril (sábado): Tiradentes
  • 1º de maio (terça): Dia Mundial do Trabalho
  • 7 de setembro (sexta): Independência do Brasil
  • 12 de outubro (sexta): Nossa Senhora Aparecida
  • 2 de novembro (sexta): Finados
  • 15 de novembro (quinta): Proclamação da República
  • 25 de dezembro (terça): Natal

Ponto facultativo

Confira as datas de 2018 em que o ponto será facultativo nas repartições federais: 
  • 12 de fevereiro (segunda): Carnaval
  • 13 de fevereiro (terça): Carnaval
  • 14 de fevereiro (quarta): Quarta-feira de cinzas (ponto facultativo até as 14h)
  • 31 de maio (quinta): Corpus Christi
  • 28 de outubro (domingo): Dia do Servidor Público